quarta-feira, 1 de março de 2017


Programas para aviação civil sofrem com disputa na Infraero

Martha Alves/Folhapress
Após acidente no aeroporto de Congonhas (SP), passageiros esperam seis horas em fila para remarcar voo.
Fila de passageiros no aeroporto de Congonhas

PUBLICIDADE
Uma disputa no comando do PR (Partido da República) está atrapalhando o desenvolvimento de programas para a área de aviação civil e colocou em rota de colisão o ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Maurício Quintella, e o presidente da estatal de aeroportos Infraero, Antonio Claret.
Os dois fazem parte de grupos diferentes do partido, que herdou a maior parte dos cargos no setor de transportes no governo Michel Temer.
O ministro, que é deputado licenciado pelo PR de Alagoas, já informou Temer sobre os problemas para administrar a estatal, que desde o final do ano está sob o comando dos deputados do PR de Minas Gerais.
De um lado, estão os técnicos ligados ao ministro, que tentam manter o planejamento que visa tornar a Infraero rentável novamente após a privatização de cinco dos seus maiores aeroportos. A empresa perdeu receita, mas não pode cortar funcionários.
No final do ano, esses técnicos foram sendo afastados dos cargos mais relevantes da empresa e do conselho de administração, que comanda a estatal, e foram substituídos por indicados do PR mineiro.
No centro da disputa entre os dois grupos está a atual gestão da estatal. No plano da companhia, liderado pelo ministro, a Infraero criará subsidiárias, e uma delas vai gerir os aeroportos lucrativos.
Como revelou a Folha, essa empresa deverá abrir o capital na Bolsa e poderia até ampliar os limites da exploração comercial nos aeroportos em troca de novos investimentos para ampliação e manutenção aeroportuária.
Mas esse plano está sendo minado pelo grupo do PR mineiro, que pretende privatizar os aeroportos mais lucrativos. No plano deles entrariam Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ), por exemplo.
Contrariando o ministro, esse grupo também conduz discussões na Infraero para a concessão do aeroporto da Pampulha, que fica em Belo Horizonte. Se for reativado, vai retirar mais passageiros de Confins, aeroporto privatizado a 30 km da capital mineira e que já enfrenta dificuldades financeiras devido à recessão.
Como domina o conselho de administração, esse grupo também fez outra manobra e mudou o edital de licitação da próxima rodada de concessões de aeroportos para que as interessadas na disputa tenham de antecipar a maior parte das receitas.
Com isso, retiraram da disputa grupos de menor porte que estavam interessados, mas não têm fôlego para fazer a antecipação.
Nos bastidores, os descartados afirmam que o grupo abriu negociação prévia com os futuros vencedores.
RETALIAÇÃO
A disputa tornou-se pública numa reunião no Ministério do Planejamento há cerca de duas semanas para decidir sobre o orçamento para obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Representantes da diretoria da Infraero pediram R$ 2 bilhões em verbas para obras da empresa para os próximos três anos, sem detalhar quais.
O Planejamento recusou a proposta, dizendo que esse pedido cabia à SAC (Secretaria de Aviação Civil), que, em retaliação, não apresentou o pedido de verbas.
O PR controlou durante todo o governo dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff o Ministério dos Transportes, mas não tinha o controle de todas as estatais e autarquias ligadas ao órgão.
No governo Dilma, o partido foi afastado do comando do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), com a demissão de dezenas de servidores suspeitos de desvios de recursos no órgão.
OUTRO LADO
A Infraero nega a existência de conflitos entre o presidente da estatal e o ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Maurício Quintella, na condução das medidas para reestruturar a companhia e suas subsidiárias.
Por meio de sua assessoria, a estatal afirmou que seu presidente, Antonio Claret, foi indicado pelo próprio ministro para o cargo e que mantém com ele um "excelente relacionamento pessoal e profissional".
Ainda segundo a assessoria, Claret conduz mudanças para tornar a empresa sustentável e "capaz de realizar investimentos com recursos próprios". Por isso, foi encaminhado ao governo um projeto de recuperação que já está sendo analisado.
Entre as propostas, estão a criação da Infraero Aeroportos e da Infraero Serviços e a transferência da atividade de navegação aérea para o Comando da Aeronáutica.
De acordo com a estatal, as mudanças no conselho de administração foram necessárias com a saída de antigos conselheiros e "visou a representatividade e defesa dos interesses da Infraero".
A Infraero afirma que a proposta de orçamento enviada para o Ministério do Planejamento foi de R$ 1,48 bilhão para este ano, e não de R$ 2 bilhões.
Deste total, R$ 838,3 milhões seriam para investimentos dentro da carteira do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O restante seria para investimentos nas empresas que administram os aeroportos de Brasília, Campinas (SP), Guarulhos (SP), Galeão (RJ) e Confins (MG) -em que a Infraero detém 49% de participação- e também para investimentos na rede de aeroportos controlados totalmente pela Infraero.
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/02/1862401-programas-para-a-aviacao-civil-sofrem-com-disputa-na-infraero.shtml

Nenhum comentário:

Postar um comentário