domingo, 4 de dezembro de 2016


Parentes de vítimas de acidente aéreo: a dor não passa, mas a vida continua
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Aiuri Rebello
Do UOL, em São Paulo

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  • Luiz Claudio Barbosa/Futura Press
    Pessoas visitam o "Memorial 17 de Julho", em homenagem a vítimas do acidente do voo JJ3054 da TAM, próximo ao aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo (17.jul.2013)
    Pessoas visitam o "Memorial 17 de Julho", em homenagem a vítimas do acidente do voo JJ3054 da TAM, próximo ao aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo (17.jul.2013)
Dona Silvia conseguiu recuperar a máquina fotográfica da filha em meio aos destroços. Sobreviveram as imagens das férias. Agora, toda vez que os outros filhos saem de casa, tem medo de não vê-los nunca mais. Faz nove anos. Seu Nelson pensa no filho todos os dias. Quando acorda, quando cozinha, quando vê alguém parecido com ele na rua, quando vai dormir. Faz sete anos.
Roberto chorou o dia todo na terça-feira, quando viu a tragédia da Chapecoense. Lembrou na hora do irmão. Também faz nove anos. Dona Sandra foi para Chapecó assim que soube do acidente com o voo da Lamia. A lembrança sempre presente do marido a levou até lá. Para ela, faz 20 anos.
Em relato ao UOL Esporte, parentes das vítimas de três dos piores acidentes aéreos na história do Brasil contam como conseguiram tocar a vida depois, o que sentiram ao saber do voo da Lamia que caiu com a equipe da Chapecoense na madrugada de terça-feira (29) em Medellín deixando 71 mortos, assim como o que gostariam de dizer para os familiares das vítimas.
Foram ouvidos familiares de vítimas das tragédias dos vôos JJ3054 da TAM em 2007 (199 vítimas), AF447 da Air France em 2009 (228 vítimas), e JJ402 da TAM em 1996 (99 vítimas). Representantes das vítimas do acidente com o voo GLO1907 daGol em 2006 (154 vítimas) preferiram não conversar com o UOL. Em comum, todos criaram associações de parentes das vítimas para apoio mútuo.

Nelson Marinho, 73 anos, militar da reserva
Pai de vítima do acidente com o avião da Air France em 2009 na rota Rio de Janeiro/Paris

"Já faz sete anos. Hoje tem um processo criminal no Brasil, outro na França, e nenhum culpado condenado até agora. É sempre a mesma história, a mesma irresponsabilidade: a primazia do capital sobre a vida. Sempre que vejo notícias de acidentes aéreos, passa um filme na minha cabeça. Tudo vem à tona. Meu filho estava no melhor momento da vida dele. Aos 40 anos, trabalhava para uma empresa francesa de exploração de petróleo. Pegava sempre esse voo. Deixou a namorada grávida. É muito doído ver que as coisas não mudam. A irresponsabilidade das companhias aéreas, dos governos e dos fabricantes é enorme.
Que os parentes dessa tragédia de agora tenham determinação para seguir em frente. No fundo, a história da tragédia da Chapecoense é muito parecida com a da Air France. Quase todas as tragédias aéreas são. O motivo maior de eu seguir em frente é meu filho, a memória dele. Aí tem também minha esposa, meus outros filhos, meus netos. A vida continua e tenho que estar aqui para eles, mas falta um pedaço de mim. Esse vazio dói e tudo lembra ele: é uma comida que ele gostava, uma piada que lembro, quando vejo alguém parecido com ele na rua. Penso nele várias vezes por dia até hoje.
O que fica para as famílias é um legado de destruição, esse é o problema. É muito difícil, tenho a impressão de que isto vai fazer parte da nossa vida toda até o fim. Um filho meu tentou se matar, parentes de outras vítimas se mataram. É muito complicado conseguir conciliar alguma paz no coração. Perder um filho desse jeito... Depois que passa o luto, vem a raiva, a revolta. Sou muito determinado, o que me move hoje é a busca por Justiça. Tem hora que não aguento e choro. Ninguém foi condenado até agora. Só vou parar de lutar por Justiça quando eu morrer."

Sílvia Xavier, 61 anos, administradora de empresas
Mãe de vítima do acidente com avião da TAM em 2007 na rota Porto Alegre/São Paulo

http://esporte.uol.com.br/ultimas-noticias/2016/12/04/parentes-de-vitimas-de-tragedias-aereas.htm

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